O despertar do desenvolvimento sustentável e inovador está nas pessoas. Uma empresa ou um país que deseja ser mais competitivo precisa olhar para a educação. “A agenda de formação de pessoas é estratégica em momentos de disrupção. Temos tecnologias moldando o futuro, em um contexto de transição energética”, alertou o diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi. 

No segundo dia do 10º Congresso Internacional de Inovação da Indústria, representantes da Bosch, do Google Cloud e da ArcelorMittal falaram sobre o papel do setor na revolução educacional que o Brasil precisa fazer no painel Educação e formação profissional: desenvolvendo os novos líderes e profissionais do futuro sustentável.

Essa revolução já aconteceu na Finlândia, hoje referência mundial em educação, e foi detalhada pelo reitor da Turku University of Applied Sciences, Vesa Taatila.


“Metade dos nossos jovens vão para um caminho vocacional e uma parte vai para a universidade de ciências aplicadas, que dá apoio à vida profissional. O desenvolvimento é focado no aluno e todas as nossas instituições de ensino têm uma abordagem voltada para a inovação”, pontuou. 


Mas o que a Finlândia e experiências da indústria brasileira nos ensinam sobre a formação de profissionais inovadores? Segundo os palestrantes, são quatro passos: 

1) Educação básica de qualidade para todos 

Fernando Tourinho, diretor de Recursos Humanos da América Latina da Bosch Brasil, e Sofia Trombetta, diretora de Pessoas, Saúde e Bem-estar da ArcelorMittal, chamaram atenção para a educação básica, etapa que vai da educação infantil ao ensino médio, e que deve ser de qualidade e para todos. 


“Precisamos olhar para a primeira infância, porque as crianças já vêm programadas de outra maneira. É importante, desde pequeno, juntar tecnologia e pessoas”, defendeu Trombetta.


Ela citou como exemplo a Liga STEAM, iniciativa da ArcelorMittal para levar ciência e tecnologia às escolas públicas. 

Já Tourinho trouxe projetos relevantes para a Bosch, que enxerga a educação como uma de suas responsabilidades. “No Brasil, somos 10 mil colaboradores e investimentos R$52 milhões em programas de capacitação. Desde a educação infantil, com creches nas nossas unidades em parceria com o SESI, até cursos de atualização para os colaboradores”, contou.  

“No Brasil, somos 10 mil colaboradores e investimentos R$52 milhões em programas de capacitação”, disse Tourinho, da Bosch Brasil

2) Educação profissional para formar e requalificar 

A Finlândia é referência pelo modelo de ensino mais flexível, que valoriza os docentes e atende a necessidades específicas de aprendizagem. Outro destaque é que 51% dos estudantes do ensino médio no país cursam educação profissional, enquanto, no Brasil, são só 8%.  

Não há receita fácil para alcançar os ótimos resultados finlandeses no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), mas Vesa Taatila deu algumas pistas: adaptar os currículos para a realidade local e produtiva, tornar o ensino multidisciplinar e possibilitar ao aluno descobrir e exercer sua vocação profissional. 

Reitor da Turku University of Applied Sciences, Vesa Taatila, falou sobre lições da Finlância para formação profissional

Milton Larsen Burgese, diretor para o setor público do Google Cloud América Latina, defendeu a educação profissional após afirmar que é fruto do ensino técnico. “Me sinto confortável de falar e defender, especialmente no Brasil, onde muitos jovens não têm condição de entrar na universidade”. 

Além de preparar aqueles que vão ingressar no mercado de trabalho, Fernando Tourinho, da Bosch, complementou que a formação também atualiza para as novas tecnologias. “Além de atuarmos com cursos técnicos, como mecatrônica e eletrônica, temos a Digital Talent Academy, que vai formar, neste ano, 200 jovens de famílias vulneráveis em desenvolvimento de software, cloud e cibersegurança”. 

3) Diálogo setor produtivo, governo e sociedade civil 

Diante da provocação de Tourinho – “como pequenas, médias e grandes empresas podem fomentar a educação para termos uma política pública de país e não de governos?” -, os participantes apontaram para a necessidade de diálogo entre o setor produtivo, governos e a sociedade. 

Novamente com o exemplo da Finlândia, o reitor Taatila lembrou que, há 100 anos, o país era uma nação em desenvolvimento, de base agrícola. Há 30 anos, a economia ainda girava em torno de dois ou três setores.  

“Juntamos todos os interlocutores da sociedade, a indústria, o estado e organizações da sociedade civil em prol do desenvolvimento nacional. Precisamos gastar 4% do nosso PIB em pesquisa e desenvolvimento, e isso vem de fontes públicas e privadas. Estamos aumentando investimento em P&D, e o que faz funcionar nossos sistemas de inovação é a educação, desde a base”, argumentou. 

Aqui no Brasil, o diretor da Google Cloud, Milton Burgese, lembrou da parceria da instituição com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Social da Indústria (SESI) para mapear as habilidades necessárias aos jovens que vão se formar e trabalhadores que já estão no mercado para lidar com as novas tecnologias. “Não é uma demanda futura. É de hoje”. 

Painel “Educação e formação profissional: desenvolvendo os novos líderes e profissionais do futuro sustentável” no Congresso de Inovação

4) Ecossistemas de inovação que integrem instituições de ensino e empresas 

Se há educação de qualidade desde a infância; formação continuada para os trabalhadores; e diálogo entre empresas, governo e sociedade; falta apenas um ecossistema para manter tudo isso vivo, criando valor. 

Para o finlandês Veesa Taatila, o Brasil tem o maior potencial para transição verde no mundo, se considerados os recursos naturais dentro das fronteiras.


“A questão é como tirar proveito disso nas próximas décadas para uma transição energética de verdade”. 


Sofia Trombetta, da ArcelorMittal, apontou um caminho. “Identificar quais são as habilidades e os trabalhos verdes. Fazer um diagnóstico de onde a gente quer chegar e dialogar com governo e instituições de ensino”. O próximo passo seria criar ambientes semelhantes ao AçoLab, que, segundo ela, é o primeiro laboratório de inovação aberta na cadeia do aço. “Fazemos muito investimento em pesquisa. Temos também o Programa Inove-se, que conecta academia, empregados e startups na busca de soluções digitais”. 

Burgese, diretor para o setor público do Google Cloud América Latina, finalizou: “O Google nasceu em uma universidade. A gente acredita muito que a transformação se dá nesses ambientes”. 

FIEPB

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