Em uma conversa por áudio, Fabrício Queiroz, ex-policial militar e ex-assessor de Flávio Bolsonaro, traz orientações sobre indicações políticas para cargos comissionados no Congresso Nacional e fala em uma “fila” no gabinete do hoje senador.
“Tem mais de 500 cargos lá, cara, na Câmara e no Senado”, disse. “Vinte continho aí para gente caía bem”, emendou.
A reportagem foi publicada no site do Jornal O Globo desta quinta-feira (23). O jornal afirma que o áudio é parte de uma conversa travada em junho deste ano – oito meses depois de Queiroz ter sido exonerado por Flávio – a um interlocutor não identificado.
No áudio obtido pelo Globo, Queiroz demonstra conhecer o funcionamento do gabinete do senador e sugere que o interlocutor poderia procurar parlamentares que frequentam o local para tratar de nomeações.
Coaf cita pagamento de título bancário de R$ 1 milhão em relatório sobre Flávio Bolsonaro — Foto: Reprodução/JN
A transcrição do áudio
Tem mais de 500 cargos lá, cara, na Câmara e no Senado. Pode indicar para qualquer comissão ou, alguma coisa, sem vincular a eles em nada, em nada. Vinte continho aí para gente caía bem para c*, meu irmão, entendeu?
Não precisa vincular ao nome. Só chegar lá e, pô cara, o gabinete do Flávio faz fila de deputados e senadores, pessoal para conversar com ele, faz fila.
Só chegar lá e, pô meu irmão, nomeia fulano aí para trabalhar contigo aí, salariozinho bom desse aí, cara, para a gente que é pai de família, cai como uma uva.
O que dizem os citados
Nota de Flávio Bolsonaro
A assessoria do senador divulgou uma nota em que questiona a autenticidade do áudio.
“O senador Flávio Bolsonaro não mantém qualquer contato com Fabrício Queiroz há quase um ano. O áudio comprova que seu ex-assessor não possui qualquer influência junto ao gabinete do senador, tanto que sugere ao suposto interlocutor buscar outros caminhos para ter acesso a cargos”, disse.
“Se é que a voz no áudio é de Queiroz, estaria usando o nome do senador sem sua autorização e promete algo impossível, que jamais poderia entregar”, emendou.
“Quem sugere a existência de vínculos ou influência sobre o gabinete do senador está mentindo”, completou.
Nota de Fabrício Queiroz
Por nota, a defesa de Fabrício Queiroz declarou que “vê com naturalidade o fato dele ser uma pessoa que ainda detenha algum capital político, uma vez que nunca cometeu qualquer crime, tendo contribuído de forma significativa na campanha de diversos políticos no Estado do Rio de Janeiro”.
Desse modo, “a indicação de eventuais assessores não constitui qualquer ilícito ou algo imoral, já que, repita -se, Fabrício Queiroz jamais cometeu qualquer ato criminoso”.
A prática da ‘rachadinha’
Fabrício Queiroz é ex-assessor e ex-motorista do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), para quem trabalhou no mandato na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Ele movimentou R$ 1,2 milhão em sua conta de maneira considerada “atípica”, segundo relatório do Conselho de Atividades Financeiras (Coaf).
O Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro abriu procedimento investigatório criminal para apurar o caso. Queiroz é investigado por suposta prática da rachadinha, quando os servidores comissionados devolvem parte dos salários.
O inquérito foi suspenso por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. Quem pediu a suspensão das investigações foi Flávio Bolsonaro.
As investigações envolvem um relatório do Coaf, que apontou operações bancárias suspeitas de 74 servidores e ex-servidores da Alerj. O documento revelou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, incluindo depósitos e saques.
Segundo as investigações, Queiroz emplacou sete parentes na estrutura.
Com informações do G1