De janeiro a 20 de outubro deste ano, a Receita Federal recebeu 22.327 declarações de saída definitiva do Brasil. Está perto de bater novo recorde e superar o total de 2018, que foi de 23.231, segundo dados da Receita Federal. É efeito dos anos de recessão no país, que acabou levando milhares de pessoas a buscarem melhores condições de emprego , qualificação e qualidade de vida no exterior .

Ao mesmo tempo, países como Alemanha e Japão mudaram recentemente suas políticas de imigração para atrair mão-de-obra qualificada, em meio ao rápido envelhecimento da população. Outras economias dinâmicas, como Canadá, Austrália e Nova Zelândia, têm tradição em programas para receber imigrantes das mais diferentes profissões. E, em alguns casos, como em Portugal e nos Estados Unidos, abrir o próprio negócio é a opção para se estabelecer no país.

O GLOBO preparou um guia para quem busca oportunidades no exterior. Uma série de reportagens especiais traçou o roteiro para os 11 destinos mais procurados pelos brasileiros, como os citados acima, além de Reino Unido, Rússia, China e países da América do Sul. Veja, abaixo, como se preparar para morar em cada um destes lugares.

Parte desses brasileiros deixa o país com o propósito de imigrar em definitivo. Tantos outros passam um período fora e, depois, retornam ao país. Esse movimento expõe a fuga de mão de obra qualificada registrada nos últimos anos. Mas pode, ao mesmo tempo, também estabelecer pontes entre empresas, universidades e instituições de ensino do Brasil e outras de diversos países.

Quem deseja imigrar deve se preparar, aconselha João Marques, da Emdoc, que presta consultoria jurídica de imigração. Ou seja, se informar sobre a vida no destino, o idioma, a cultura, as exigências de visto, os sistemas de educação e saúde, planejar o sustento. As oportunidades existem, mas os desafios são muitos.

Acompanhe, abaixo, as oportunidades que cada destino oferece.

Estados Unidos

Vida nova: Guilherme Cerqueira (à esquerda) foi com a família para Atlanta. André Dayan (à direita) preferiu o interior Foto: Arquivo pessoal
Vida nova: Guilherme Cerqueira (à esquerda) foi com a família para Atlanta. André Dayan (à direita) preferiu o interior Foto: Arquivo pessoal

  Cresce o número de profissionais com graduação e currículo extenso em suas áreas de atuação que decidem emigrar para os Estados Unidos, passando por todos os ritos legais para viver o sonho americano .

No ano passado, o Departamento de Imigração dos EUA emitiu 4.458 vistos para brasileiros que decidiram morar, para trabalhar ou estudar, no país. O número representa um crescimento de 27,3% na comparação com o ano anterior. Até 2014, a concessão desse tipo de visto não passava de 2 mil por ano.

São muitas as categorias de visto para se mudar para os EUA, mas os mais pedidos são baseados em habilidades extraordinárias. Formação e experiência na área de saúde, economistas, profissionais de tecnologia da informação e piloto de avião são algumas das carreiras que têm demanda alta em solo americano.

Portugal

. Foto: Montagem/Arte O Globo
. Foto: Montagem/Arte O Globo

  Nos últimos anos, Portugal virou um destino preferencial para quem quer trabalhar ou estudar fora. O Itamaraty estima que pouco mais de 111 mil brasileiros vivam hoje em Portugal, sendo 65,7 mil em Lisboa e 31,3 mil no Porto. Só entre 2017 e 2018, o número de imigrantes que cruzou o oceano cresceu 23%, com muita gente atraída pela facilidade de trocar de país, mas não de língua.

Esta explosão de mão de obra em uma economia pequena como a portuguesa aumentou a concorrência pelas vagas para profissionais qualificados, que são as que pagam melhores salários. Assim, empreender tem sido a nova tendência — e um desafio arriscado — entre os que desembarcam do Brasil.

Japão

Japão flexibilizou regras para atrair mão de obra estrangeira Foto: Editoria de arte / Editoria de arte
Japão flexibilizou regras para atrair mão de obra estrangeira Foto: Editoria de arte / Editoria de arte

Com o envelhecimento da população, o governo japonês decidiu facilitar a entrada de imigrantes para suprir a demanda do mercado de trabalho local. As regras de contratação de estrangeiros foram flexibilizadas em abril, permitindo que pessoas sem ascendência japonesa e até de baixa qualificação profissional possam se candidatar a uma vaga no país.

A estimativa do governo japonês é emitir 345 mil vistos de trabalho para pessoas de várias nacionalidades em cinco anos. Com a crise econômica e o elevado desemprego no Brasil, o número de brasileiros que vem deixando o país para morar no Japão é crescente.

Alemanha

Alemanha Foto: Montagem O Globo
Alemanha Foto: Montagem O Globo

  Em 2020, a nova lei de imigração que entrará em vigor na Alemanha deve facilitar a entrada de profissionais qualificados para trabalhar no país . Com o envelhecimento da população, já há oportunidades para estrangeiros nas áreas de engenharia, TI, medicina e, principalmente, enfermagem.

Relatório publicado em julho mostra que há 50 profissões cujas vagas a Alemanha precisa suprir com estrangeiros. Além das três áreas já citadas, Medicina é outra frente de captação.

No Brasil já há um programa específico para captação de enfermeiros.

Canadá

O engenheiro de automação Henrique Trebilcock com a mulher e o filho do casal em Quebec, no Canadá Foto: Álbum de família
O engenheiro de automação Henrique Trebilcock com a mulher e o filho do casal em Quebec, no Canadá Foto: Álbum de família

  Outro país que vem buscando mão de obra qualificada e que está atraindo cada vez mais brasileiros é o Canadá. No ano passado, o país concedeu 3.950 vistos permanentes para pessoas vindas do Brasil, um aumento de 88% sobre 2017.

Com um programa formal de incentivo à imigração — em busca de pessoas jovens e qualificadas para viver no país, cuja população soma perto de 37 milhões de pessoas, menos que em todo o estado de São Paulo — o Canadá recebe mais de 300 mil imigrantes por ano.

O Express Entry é a entrada mais desejada por quem quer viver no Canadá, um visto que resulta do processo de seleção de imigrantes qualificados pelo governo federal. Há outras portas para quem planeja estudar ou trabalhar no país .

Reino Unido

Bruna Montuori e Leonardo Soares desbravam o Reino Unido Foto: Acervo pessoal
Bruna Montuori e Leonardo Soares desbravam o Reino Unido Foto: Acervo pessoal

  Já indicou que pretende continuar atraindo gente qualificada e, se possível, reter os cérebros que frequentaram os bancos de suas universidades — muitas na lista de melhores do mundo. O país dá vistos especiais para empreendedores e profissionais voltados para áreas de inovação.

Recebe o direito de residência quem abrir empresas consideradas inovadoras com 50 mil libras (cerca de R$ 268 mil) ou uma start-up que se encaixe nas regras e na lista de incubadoras do governo britânico. Neste caso, não há limite mínimo de investimento.

Os britânicos também querem atrair estudantes. O governo acaba de anunciar a meta de vender 35 bilhões de libras (R$ 188 bilhões) em cursos de graduação e pós-graduação presenciais e on-line para cerca de 600 mil alunos até 2030. Em 2016, esse valor já estava em 20 bilhões de libras (R$ 107 bilhões). O interesse não está apenas nas cifras que movimentam a economia do país, mas na manutenção da posição de excelência da academia.

Austrália e Nova Zelândia

Ricardo Fiot (de blusa azul) e Ademar Victorino com a mulher Candice Zaniol (à direita) Foto: Acervo pessoal
Ricardo Fiot (de blusa azul) e Ademar Victorino com a mulher Candice Zaniol (à direita) Foto: Acervo pessoal

  A Austrália   atrai cada vez mais brasileiros. Com pouco mais de 25 milhões de habitantes, o país da Oceania já tem 46,5 mil pessoas vindas do Brasil. É um salto de 128% em cinco anos, segundo dados do Bureau Australiano de Estatísticas, equivalente ao nosso IBGE. Em duas décadas, os brasileiros passaram da quinta posição para a liderança do ranking de maior grupo de imigrantes de países da América Latina na Austrália.

Apesar de vir aumentando as restrições para a entrada de estrangeiros nos últimos anos — como um teto de 45 anos de idade para quem se candidata a visto permanente —, a Austrália continua atraindo muitos estrangeiros por causa da diversidade de vistos para quem pretende estudar, trabalhar e viver lá. A vizinha Nova Zelândia disputa os talentos com regras similares.

Rússia

Rússia começa a atrair brasileiros Foto: Criação O Globo
Rússia começa a atrair brasileiros Foto: Criação O Globo

  Assim como o Brasil, a Rússia ainda não se tornou uma das locomotivas da economia mundial, como previra o economista Jim O’Neill ao criar o conceito Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), em 2001. Mas, mesmo sob sanções do Ocidente desde a crise com a Ucrânia provocada pela anexação da Crimeia, em 2014, o país ainda cresce a taxas superiores às do Brasil e, a despeito de muitas dificuldades, oferece oportunidades que atraem brasileiros.

A aventura russa inclui invernos longos e rigorosos. O idioma também pode ser uma barreira no início, assim como a burocracia. Mas a experiência pode ser enriquecedora. As oportunidades para profissionais brasileiros têm aparecido em empresa russas que atuam no Brasil e vice-versa, sobretudo nas áreas agrícola e de óleo e gás. É preciso se organizar para fazer a mudança para a Rússia .

China

Fabiano Coelho Ponce, à esquerda, e o casal Naschara Saraiva e Leonardo Caligari na Grande Muralha da China Foto: Arte sobre fotos de arquivo pessoal
Fabiano Coelho Ponce, à esquerda, e o casal Naschara Saraiva e Leonardo Caligari na Grande Muralha da China Foto: Arte sobre fotos de arquivo pessoal

  A economia chinesa vem diminuindo o passo. A guerra comercial com os Estados Unidos, que se arrasta há 13 meses, deve reduzir ainda mais a expansão da segunda maior economia do planeta. Mesmo assim, o país deve avançar 6% este ano e continua sendo um ímã para estrangeiros em busca de empregos ou oportunidades para empreender. E isso inclui cada vez mais brasileiros. O Itamaraty estima que, em 2018, havia 16,7 mil brasileiros vivendo na China, um salto de quase 50% em cinco anos.

A China oferece empregos em profusão para determinadas profissões, com salários atraentes, mas há muitos desafios. Não se trata apenas da distância e do clima, as referências culturais são muito distintas. Há ainda regras rígidas para a concessão de vistos e vigilância constante das autoridades, o que exige atenção.

América do Sul

Luiz Nicole se mudou com a família para o Chile em 2016 devido a uma oportunidade de trabalho e também pelo momento do país Foto: Arquivo pessoal
Luiz Nicole se mudou com a família para o Chile em 2016 devido a uma oportunidade de trabalho e também pelo momento do país Foto: Arquivo pessoal

  Facilidades para ingressar no mercado de trabalho e a proximidade de casa são alguns atrativos que levaram a mais de meio milhão de brasileiros a optarem por países da América do Sul para trabalhar ou estudar.

Na maior parte das nações que compõem o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e nos demais associados ao bloco (Chile, Colômbia, Equador e Peru) é preciso apenas fazer um registro de residência para estar habilitado a procurar emprego . O processo de validação de diplomas também é simplificado, sem exigência de provas acadêmicas.

Com informações de O Globo

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