Carol Cronemberger conta que quando começou a produzir seus próprios cosméticos em casa era considerada excêntrica, “quase uma aberração”. Passados 18 anos, ela não apenas aprimorou seus processos e criou um portfólio de produtos para venda, como agora também dá aulas em seu novo ateliê, em Laranjeiras. Ensinando o passo a passo da cosmética natural , ela faz uso de ingredientes como óleos essenciais , cera de abelha, glicerina e argila, que se transformam em sabonetes, hidratantes, maquiagens…
De fato, o consumo sustentável está na pauta do dia de 32% dos brasileiros, segundo pesquisa divulgada mês passado pela Nielsen Brasil. Marcas que investem em produtos orgânicos, veganos, não testados em animais e feitos com produtos naturais são consideradas como prioridades para um público cada vez maior.
— Gostaria que todos tivessem a experiência de fazer seus próprios produtos, assim como preparamos a comida, por exemplo. Para entender as coisas como elas são e por que cada ingrediente está ali. Acredito que isso, de certa forma, faz a pessoa ser mais crítica na hora de comprar — afirma Carol, cujos únicos produtos de origem animal que usa são cera de abelha, mel e própolis. — Todos podem ser tranquilamente substituídos para atender o público vegano.
No ateliê de Mônica e Paloma Ronai, mãe e filha, na Glória, uma lousa negra traz escrito em giz os três pilares do slow beauty : menos é mais, a valorização e aceitação da real beleza e a preocupação com a origem dos produtos. Daí, a propósito, veio o nome da marca criada por elas, BiOrigen Cosmética Consciente, uma linha 100% vegana.
— O slow beauty é um movimento que veio se contrapor a esse modelo atual de industrialização que incentiva o consumismo. É um retorno ao artesanal, a uma preocupação com a matéria-prima daquele produto. Somos muito passivos no consumo — diz Mônica, lembrando que seu processo de conscientização começou com a alimentação e se estendeu para a cosmética. — É uma busca quase espiritual.

Em sua marca, a saboaria e o desodorante natural são os campeões de venda. Para incentivar o consumo consciente, as embalagens dos sabonetes são de pano, e ela dá desconto para quem levar de volta o potinho de vidro para a compra de um novo produto:
— Infelizmente, a maquiagem ainda precisa de plástico. Então fazemos refil como forma de estender a vida útil daquela embalagem.
A beleza vegana será o tema da última edição de 2019 do coletivo Carandaí 25, que reúne jovens talentos da moda brasileira no Jockey Club, do próximo dia 28 a 1º de dezembro. Doze pequenos produtores de cosméticos, maquiagens e óleos vegetais de todo o país estarão reunidos num canto verde do evento que, desta vez, terá o tema “Semear”.
— A ideia é disseminar boas ideias, novos conceitos e práticas positivas para o ano novo — diz a empresária Tatiana Acciolli.
Produtos ‘cruelty free’ estão em alta
Arquiteta de formação, Maristela Simões encontrou na arte de produzir sabonetes uma nova paixão e um negócio, que existe desde 2004. A marca, que leva seu nome e tem sede em Botafogo, acompanhou as mudanças e exigências do mercado. Hoje aposta nos sabonetes com formato e cheiro de frutas — seu carro-chefe —, além de itens como hidratantes corporais e esfoliantes.
— Todo o nosso processo é artesanal, e os produtos são veganos. É um mercado que não para de crescer — diz ela, que toca o negócio ao lado do marido, Carlos Alberto Simões.
Mas não só os pequenos produtores investem no segmento de beleza vegana e cruelty free (que não são testados em animais). Marcas como a Face It, a Lola Cosmetics e a Desinchá Beauty já nasceram com essa pegada sustentável. Fundadoras da Face It, especializada em batons veganos, Elza e Julia Barroso, mãe e filha, atuaram por anos no mercado de moda, jornalismo, fotografia e meio ambiente. Até que sentiram a necessidade de fazer a diferença.

— Nossa vontade é imensa de buscar soluções para nossas próprias vidas, e consequentemente para todos. Simplesmente nos conscientizamos e resolvemos colaborar. O mundo não suporta mais o consumo de tóxicos e crueldade, isso vai ficar no passado — afirma Elza.
É importante ressaltar que, assim como os industrializados, os produtos naturais também podem causar alergias, e o seu uso pode aumentar problemas já existentes. Segundo o dermatologista Fabrício Lamy, do ponto de vista médico não há qualquer embasamento científico para se dizer que produtos naturais ou veganos têm algum tipo de benefício ou menor risco para tratamentos de beleza e higiene.
— Um produto dito natural deve significar apenas que está presente na natureza, não que seja isento de riscos para o ser humano. Eles podem causar reações alérgicas — explica Lamy, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia e professor de pós-graduação do Instituto Carlos Chagas.
Manipulação de produtos naturais
Como todo produto industrializado, itens de beleza sintéticos podem causar efeitos colaterais que vão das manchas e queda capilar e até problemas hormonais. Atentos a esses cuidados, espaços procuram soluções alternativas e cosméticos naturais, capazes de proporcionar cura e benefícios, sem os efeitos ruins do tratamento. A Amoreira Natural, com sede num coworking na Tijuca, e a Clínica Sustentare, em Bonsucesso, são exemplos de empresas de manipulação de produtos naturais. A primeira faz entregas para todo o país, e a segunda realiza procedimentos e funciona como loja.

Criada há dois anos, a Amoreira Natural produz cosméticos 100% biodegradáveis. Ao todo são 39 produtos capilares, faciais, corporais e relaxantes. Tudo feito de ervas e óleos vegetais e essenciais, que podem ter mais de uma função. Entre os produtos há loções, géis, hidratantes, cremes, sabonetes e xampus.
— Na cosmética natural, um produto pode ter múltiplas funções, como a água nutritiva, que serve para os fios, o couro cabeludo e o rosto. É feita de pitanga, aloe vera e gerânio. A loção de limpeza demaquilante também serve para hidratar a pele — explica Liza Moreira, sócia da empresa ao lado de Karina Zimmer.
Mais informações e contatos pelo Instagram <@amoreira_natural>.
A Clínica Sustentare também fabrica os seus cosméticos, num total de 30 itens, totalmente livres de componentes químicos. Destaque para os cremes e óleos ozonizados.
— O ozônio, quando reage com o organismo, se torna antioxidante, conseguindo, assim, resultado melhor e mais rápido — diz a ozonioterapeuta Dayana Brazão.
Além de promover workshops, a Sustentare dispõe de procedimentos variados, como aplicação de ozônio, terapias e massagens. Detalhes em <sustentaresaude.com.br/>.
Com O Globo