A troca dos corpos aconteceu há mais de um mês, no Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande (foto: reprodução)

Um caso vivido pela família de um idoso que morreu vítima da COVID-19 no Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, em Campina Grande, no Agreste paraibano, tem ocasionado, além da dor, um severo constrangimento para amigos e familiares do paciente.

Além de não poder dar o último adeus ao familiar, graças aos protocolos sanitários que recomendam que velórios e sepultamentos de vítimas da doença não sejam realizados de forma tradicional, no dia 20 de Junho o Hospital liberou o corpo de Jaime Oliveira de Almeida, de 68 anos, residente em Campina Grande, para uma família do município de Ingá, que também havia perdido um ente para o novo coronavírus. O equívoco só foi percebido após o corpo do homem de Campina ter sido sepultado no cemitério municipal de Ingá.

Aliado a todos estes contratempos, mais de trinta dias após a morte do aposentado o corpo segue sem poder ser sepultado pela família.

O caso:

Dias antes da troca dos cadáveres, a filha do idoso buscou a Defensoria Pública por não conseguir a liberação do corpo do pai, sob a alegação de que não havia documentos que comprovassem a identidade dele. A Defensoria, por sua vez, emitiu um ofício solicitando informações do Hospital de Trauma acerca do caso, que, de pronto, solicitou a ida da mulher até a unidade hospitalar para realizar o reconhecimento de um corpo presente no necrotério.

Apenas ao chegar lá foi constatada a troca dos corpos. A partir daí, todo um imbróglio foi instaurado para ser realizada a exumação do aposentado e feito o translado de volta para Campina Grande para, enfim, serem feitos os procedimentos de identificação e consequente sepultamento.

O que diz a família:

Segundo informa a família de Jaime Oliveira ao Blog do Márcio Rangel, o corpo, exumado no último dia 14 de Julho, ainda não pôde ser sepultado por problemas na documentação. Tendo, inclusive, sido realizado um exame de DNA através das digitais do idoso para comprovar sua identidade.

Na última sexta-feira (17), ao encaminhar o cadáver para o Cemitério do Araxá, na Zona Oeste de Campina, teria recebido a negativa para a realização do sepultamento e, com isso, retornado novamente para o Núcleo de Medicina e Odontologia Legal (NUMOL) da cidade, onde está até o momento da publicação desta reportagem.

O que diz o NUMOL:

Ao Blog, o diretor do NUMOL, Márcio Leandro, apresentou a versão do órgão sobre o caso. Segundo Márcio, após a realização da exumação no último dia 14, o corpo foi transportado para Campina, onde foram iniciados os procedimentos de identificação. Como informado pela família, o reconhecimento foi feito através das digitais da vítima e demoraram mais que o previsto por motivos de, além do fato do paciente já ser idoso, o corpo já se encontrava em estado avançado de decomposição.

Feito isto, o cadáver foi liberado para os familiares realizarem a retirada e também o sepultamento. Entretanto, segundo o diretor, a filha do idoso alegou não ter condições financeiras de realizar a transporte do cadáver, para isto, a direção autorizou o uso de um veículo do instituto. Ao chegar no cemitério do bairro do Araxá, além da família não possuir a documentação necessária para realizar o enterro – motivo pelo qual houve a negativa afirmada pelos parentes – também haveria chegado por volta das 16h30, horário em que os coveiros não estavam mais em seu horário de trabalho.

O que diz o Hospital de Trauma:

Ainda sobre o caso, o Hospital de trauma de Campina Grande se pronunciou afirmando que há equívocos na versão apresentada pela família, como a de que o senhor teria contraído a COVID-19 naquela unidade hospitalar. Segundo o advogado Rodrigo Celino, consta no prontuário do paciente que o mesmo já havia testado positivo para a doença ainda na UPA do Alto Branco, motivo pelo qual foi transferido para a “Ala COVID”, destinada apenas para pacientes já confirmados com o vírus.

Sobre o reconhecimento dos pacientes que falecem vítima da doença, o Hospital informa que possui um protocolo visual e presencial, onde os familiares são encaminhados até o necrotério e, seguindo os padrões de segurança e higiene, reconhecem visualmente o cadáver e assinam um termo de liberação. Segundo Rodrigo, todo este procedimento foi seguido a risca pela família de Ingá no momento do reconhecimento do Senhor Jaime como seu familiar.

Ainda segundo a versão do Hospital, ao perceberem o equívoco na troca dos homens, as duas famílias foram convocadas para tentar, da melhor forma possível, reverter a questão. Entretanto, a família de Ingá teria se negado a realizar os procedimentos de exumação e translado de volta para Campina, onde seria entregue à sua real família, motivo este que motivou toda ação judicial citada anteriormente.

Sobre a documentação, após a identificação realizada pelo IML, o Hospital afirma que disponibilizou todos os meios necessários para ser emitida a certidão de óbito, solicitada para a realização de sepultamentos. Entretanto, por questões que não competem à Unidade, a família não havia procurado buscar a papelada.

Uma sindicância será aberta para apurar as condutas dos servidores envolvidos em toda esta inusitada e dolorosa questão, para que, caso identificado os responsáveis, os mesmos sejam punidos nos autos da lei.

Por Pedro Pereira

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