Foto: Marcos Santos/ Reprodução

De janeiro a setembro de 2020, 65 mulheres foram mortas por crimes letais intencionais em toda a Paraíba. Do total, 26 casos estão sendo investigados como feminicídios. O número representa 44,4% dos assassinatos de mulheres. No mês de setembro, nove mulheres foram mortas e quatro casos são investigados como feminicídios.

Em relação a setembro de 2019, houve aumento nos números totais. No ano passado, os feminicídios representaram 100% dos assassinatos de mulheres em setembro. Todos os quatro assassinatos foram motivados por questões de gênero. Isso significa que, no total de mulheres mortas, houve um aumento de cinco casos, mas o número de feminicídios não se alterou.

Os dados são da Secretaria de Estado da Segurança e Defesa Social (Seds), solicitados pela Lei de Acesso à Informação.

Feminicídio é o assassinato de uma mulher cometido devido ao fato de ela ser mulher ou em decorrência da violência doméstica. Foi inserido no Código Penal como uma qualificação do crime de homicídio em 2015 e é considerado crime hediondo.

Em relação ao assassinato de mulheres, o mês mais violento foi o de janeiro, quando 11 mulheres foram mortas. Um caso está sendo investigado como feminicídio. Importante destacar que, no decorrer dos meses do ano, outro caso investigado como feminicídio foi adicionado no mês de janeiro, mas em junho ele foi descartado.

Apesar disso, maio foi o mês que mais registrou feminicídios, com cinco casos em investigação, representando 50% do total de mulheres assassinadas (10) no mês. Nas estatísticas divulgadas sobre o mês de maio, quatro casos estavam em investigação, isto é, um caso foi acrescentado nas investigações da Polícia Civil após o fechamento das estatísticas anteriores.

Proporcionalmente, abril foi o mês com maior número de feminicídios com relação aos casos de mulheres assassinadas. Do total de sete crimes violentos contra mulheres, 4 deles são investigados como feminicídio, o que representa um percentual de 57%. Os outros três casos são homicídios dolosos, que podem ter outras motivações.

Além disso, outro ponto a destacar é que desde o mês de de junho, quando o número de feminicídios sofreu uma queda 5 para 1 caso, os números passaram a aumentar. Os dados sequem uma sequência de aumento de pelo menos um caso a cada mês, entre junho e setembro.

CASO PÂMELA DO NASCIMENTO

Pâmela do Nascimento, que faria 28 anos no final do mês de setembro, morreu na noite do dia sete, por espancamento. Ela estava grávida e, segundo a Polícia Civil da Paraíba, o principal suspeito é o marido dela, que está foragido. O suspeito foi levado até a delegacia, mas disse que não espancou a mulher. Ele foi liberado após depoimento.

Vizinhos ouviram quando ela foi espancada e relataram aos policiais que ela teria sido espancada até morrer. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado, mas constatou que ela já estava morta.

Pâmela era mãe de três filhos, um menino de 10 anos, outro menino de quatro anos e uma menina de sete anos. Ela estava esperando o quarto filho, com três meses de gravidez, quando foi assassinada.

  • “A cidade é pequena, então todos se conhecem. Todo mundo gostava de Pâmela” – irmã de Pâmela, Bruna Bessa.
  • “Ela nunca chegou e nos contou o que ele fazia. A gente ficava sabendo por outras pessoas, pelos vizinhos… O pessoal comentava. Porém, foi só depois do acontecimento que a gente ficou sabendo de mais coisas” – irmã de Pâmela, Bruna Bessa.
  • “Ele tinha um ciúme doentio. É tanto que chegou um determinado tempo que ele não queria que ela saísse de casa, nem que o pessoal frequentasse a casa dela. Ela tava vivendo uma coisa fora do controle já” – irmã de Pâmela, Bruna Bessa.
  • “Ela foi barbaramente assassinada. Alguns casos de feminicídio trazem certas complexidades, pois as próprias estatísticas criminais indicam que 80% dos crimes comuns são praticados em espaços públicos. Os casos de violência doméstica, no entanto, são praticados em ambientes privados, fechados. O que dificulta o esclarecimento e a investigação” – delegado Glauber Fontes.
  • “Ele era possessivo, ciumento e de temperamento altamente agressivo, que ficou sobejamente demonstrado dos autos” – delegado Glauber Fontes.
  • “A violência doméstica representa uma ideia de retrocesso a qualquer noção de civilidade. É lamentável que em pleno século XXI a gente tenha que se deparar, rotineiramente, com esse tipo de caso”, disse Glauber Fontes.

Com G1/PB

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