
O forte terremoto deste sábado (14) atinge o Haiti em um momento de forte crise política, que é anterior até mesmo à morte do presidente Jovenel Moïse em julho deste ano.
Fora isso, os haitianos também enfrentam nos últimos meses uma crescente crise humanitária, com escassez de alimentos e aumento nas taxas de violência. Isso tudo em meio à pandemia.
Crise política
Jovenel Moïse dissolveu o Parlamento e governava por decreto há mais de um ano, após o país não conseguir realizar eleições legislativas, e queria promover uma polêmica reforma constitucional.
Após seu assassinato por um grupo de mercenários, um governo interino assumiu o controle do país até a realização de novas eleições.
A nação mais pobre das Américas tem um longo histórico de ditaduras e golpes de Estado.
A polícia do Haiti afirma que o plano de assassinato do presidente foi elaborado por um doutor e pastor chamado Christian Emmanuel Sanon, que teria contratado mercenários colombianos para matar Jovenel Moise e tomar o poder.
Mas a primeira-dama Martine Moïse, que foi alvejada no ataque mas sobreviveu, considera que Sanon e os outros que foram presos não teriam dinheiro suficiente para financiar a operação para matar Jovenel. “Só os oligarcas e o sistema poderiam matá-lo”, afirma.
Ela também diz ter dúvidas sobre o que aconteceu com os agentes de segurança da residência presidencial. Nenhum guarda foi ferido. “Não entendo como ninguém foi atingido”, diz ela.
Martine afirmou que está agora considerando se candidatar à presidência.
Crise humanitária
Nos últimos meses, o Haiti vem enfrentando também uma crescente crise humanitária, com escassez de alimentos e aumento nas taxas de violência. Alessandra Giudiceandrea, coordenadora-geral do Médicos Sem Fronteiras no Haiti, falou à GloboNews sobre a realidade na área de saúde do país.
“Um simples parto já é um desafio. Então, infelizmente não podemos pensar apenas em epidemias. É no dia a dia que haitianos não têm garantido o acesso à saúde básica. (…) Acho que a atenção às necessidades de saúde do país tem sido amplamente negligenciada. As necessidades existem e, se compararmos com a situação de 10 anos atrás, eu não diria que houve qualquer avanço. Não mesmo”, disse a representante do MSF.
O país soma 576 mortes confirmadas e pouco mais de 20 mil casos, segundo dados da Universidade Johns Hopkins, mas estima-se que os números sejam bem maiores já que a testagem no Haiti é baixa.
O PIB per capita do país é de US$ 1,6 mil por ano (cerca de R$ 8,5 mil), e cerca de 60% da população vive com menos de US$ 2 por dia (pouco mais de R$ 10).
O Haiti tem 11,3 milhões de habitantes, faz fronteira com a República Dominicana na ilha Hispaniola, no Caribe, e tem um dos menores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo: 0,51.
Colonizado em 1492, após a chegada de Cristóvão Colombo à América, o Haiti foi o primeiro país do continente a conquistar a sua independência e a primeira república a ser liderada por negros, quando derrubou o domínio francês no começo do século XIX.
Tempestade se aproxima
As equipes de resgate em busca de sobreviventes do terremoto devem correr contra o tempo por conta da aproximação da tempestade tropical Grace, que deve tocar a ilha Hispaniola na segunda-feira (16).
A Agência Americana Oceânica e Atmosférica (NOAA, da sigla em inglês), prevê que a rota da tempestade passe pelo leste da ilha e há alerta de fortes ventos e chuvas para o Haiti.
Com G1