Foto: Francisco França/Jornal da Paraíba

Um estupro coletivo planejado contra cinco mulheres em uma festa de aniversário resultou na morte de duas delas, na madrugada do dia 12 de fevereiro de 2012, em Queimadas/PB, no Sertão do estado. Dez anos depois do crime que causou indignação nacional e ficou conhecido como ‘Barbárie de Queimadas’, o mentor da ação, Eduardo dos Santos Pereira, condenado a 108 anos de prisão, está foragido desde 2020, após fugir do presídio pela porta lateral. Um ato em memória das vítimas será realizado na cidade durante este sábado (12), a partir das 19h.

Dos dez homens envolvidos na noite do estupro coletivo e feminicídio de duas mulheres – a professora Izabella Pajuçara e a recepcionista Michele Domingos – apenas um permanece preso em regime fechado, segundo o advogado da família de Izabella.

As cinco mulheres não imaginavam que seriam as vítimas de um estupro coletivo dos homens que chamavam de amigos. Conforme as investigações, os abusos foram planejados pelos irmãos Luciano e Eduardo dos Santos Pereira, que teriam convidado outros homens para abusar sexualmente das convidadas na festa de aniversário de Luciano. Segundo informações contidas no processo, o crime seria um “presente” para o aniversariante.

Na casa estavam sete mulheres, nove homens e três adolescentes. Eduardo e Luciano organizaram a festa, convidaram as vítimas para o evento e se dirigiram a um mercado para comprar cordas e lacres do tipo ‘enforca-gato’, com o objetivo de amarrar as vítimas e forçar relações sexuais.

Para realizar o estupro coletivo, por volta da meia-noite, Eduardo e Luciano forjaram um assalto e entraram encapuzados na residência durante a festa, com os três adolescentes e mais cinco dos homens que estavam no local.

Os envolvidos nos abusos combinaram que, durante a festa de aniversário, três deles apagariam o sistema de energia e invadiriam a casa com máscaras de carnaval se passando por assaltantes para poder render as vítimas e, depois que elas fossem amarradas e vendadas, todos iriam estuprá-las.

Os outros dois homens que estavam na festa foram vítimas, e as esposas deles estão entre as cinco abusadas. As duas mulheres que estavam na residência e não foram alvo do estupro coletivo são justamente as esposas de Eduardo e Luciano.

Enquanto era estuprada, Izabella teria se debatido e conseguido identificar Eduardo como um dos estupradores. Em depoimento, um dos suspeitos revela os pedidos da vítima que reconheceu o agressor e pediu para não ser estuprada. “Tanto que eu fiz por você! Não faça isso não! Pare, minha mãe não aguenta isso não”.

A partir daquele momento, os abusos foram interrompidos, e os homens fugiram de carro levando Izabella Pajuçara e Michele Domingos, que também estava no quarto no momento e, portanto, teria ouvido a fala da amiga reconhecendo o estuprador.

Michele chegou a pular do carro em movimento, mas recebeu quatro tiros, sendo dois na cabeça, em frente à igreja Matriz, no Centro de Queimadas, mesma igreja onde participou da missa na noite anterior. Ela ainda foi levada ao hospital da cidade, mas não resistiu aos ferimentos. Já Izabella foi encontrada com uma meia dentro da boca na estrada que liga Queimadas a Fagundes, dentro do carro usado na fuga dos criminosos. Ela foi atingida por três disparos.

A família de Izabella conta que ficou sabendo do suposto assalto quando a irmã mais nova, que também estava na festa, chegou aflita contando o que havia acabado de acontecer e que os criminosos teriam levado Izabella e Michele. As buscas foram iniciadas, mas logo os familiares começaram a desconfiar dos envolvidos, pois teriam percebido uma “frieza”.

Quando o dono da festa foi dar queixa do assalto na delegacia, a polícia começou a desconfiar da reação dele. “Como é que um crime tão bárbaro que aconteceu na sua residência, durante um aniversário de um irmão seu, meia hora depois você está sorrindo?”, questionou o delegado regional André Luis Rabelo de Vasconcelos.

Um dos suspeitos, de 28 anos, chegou a ir ao velório de Izabella, onde foi preso.

Depois daquele dia, os familiares das vítimas iniciaram uma grande batalha por justiça, enquanto buscavam lidar com o luto. A mãe de Izabella, inclusive, entrou em depressão e passou oito anos em sofrimento profundo, com dificuldades para sair de casa, até quando morreu em 2020.

A ‘Barbárie de Queimadas’ interrompeu as vidas de duas mulheres que eram profissionais, filhas, irmãs e amigas.

Izabella Pajuçara, de 27 anos, em poucos dias seria empossada em um concurso público que teria sido aprovada em primeiro lugar. Familiares relatam que a professora de química dividia seu tempo e rotina diária entre lecionar, estudar para concursos, cuidar da família, estar entre amigos e se cuidar, pois era muito vaidosa.

Já Michele Domingos era recepcionista. Com 29 anos, era a mais velha de seis irmãos e, além de ajudar nas contas, era consultada sobre as decisões da família, pois conforme a mãe dela, Maria José Domingos, era uma pessoa que “sabia resolver as coisas”. Ela era a primogênita na família, sendo a primeira filha da sua mãe, primeira neta dos avós e primeira sobrinha de seus tios.

“Ela me ajudava muito com os irmãos e até eles obedeciam à ela. Era uma pessoa forte, determinada, estava sempre me ajudando nas coisas de casa, da família, na educação dos irmãos”, relembra a mãe.

Michele tinha muitos amigos na cidade e era muito querida na família. A mãe relata que até hoje, sempre que algum assunto familiar precisa ser resolvido, falta a opinião da filha.

Eduardo fugiu da Penitenciária de Segurança Máxima Doutor Romeu Gonçalves de Abrantes de João Pessoa, conhecida como PB1, no dia 17 de novembro de 2020. No momento da fuga, quatro policiais penais faziam a segurança do setor e foram encaminhados à Central de Polícia para prestar esclarecimentos. Um deles foi autuado por facilitação culposa e, em seguida, liberado.

Com G1 Paraíba

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