
O professor de artes marciais Daniel Tavares, natural de Sousa, no Sertão paraibano, está entre os brasileiros que viviam na Ucrânia antes da ofensiva russa no país. Ele deixou o leste europeu e retornou para a casa da família no dia 8 de fevereiro, duas semanas antes do início da guerra. Ele conta que colegas ucranianos não acreditavam que as ameaças de ataque russo fossem se concretizar.
“Localmente, dizia-se que a guerra era histeria e não deveria acontecer porque desde 2014 a Rússia ameaçava a Ucrânia. Eles falavam que era um jogo político para amedrontar os ucranianos. Quando eu vi a cobertura da mídia do Ocidente e tentei alertar, eles me disseram: Daniel, quem mora aqui somos nós, nós conhecemos [as ameaças] e isso [a guerra] não vai acontecer“, recorda.
Por ter se antecipado à guerra, Daniel Tavares não teve dificuldades de conseguir voo para o Brasil. Ele morava em Karlivka, região central da Ucrânia, a 389 quilômetros da Capital Kiev. O professor havia se mudado para o país europeu há cerca de oito meses, a convite de amigos que estavam abrindo uma academia esportiva, voltada para a prática de artes marciais, zumba, yoga e outras modalidades. Lá, ele também atuou como professor de Língua Portuguesa e Inglesa.
O paraibano conta que Karlivka não sofreu ataques russos, mas que o clima é tenso entre os 18 mil habitantes da cidade. “A situação está difícil porque é arriscado se locomover até as cidades que fazem fronteira com a Ucrânia. Todos os dias, falo com meus colegas e ex-alunos. Alguns conseguiram sair, graças a Deus. Uns foram para Moldávia e outros para a Polônia. Mas grande parte ainda está lá, pois muitos deles não têm carro”.
Mesmo com a atmosfera de incertezas gerada pela guerra, Daniel tem esperança de retornar à Ucrânia. “Eu tinha uma vida tranquila. Eu gostava muito. Tenho esperança de voltar para lá. Aprendi a amar o povo ucraniano e aquele país”.
Nessa terça-feira (1º), o Itamaraty anunciou a abertura de dois postos de atendimento consular para os brasileiros que querem deixar a Ucrânia. Os locais vão auxiliar na emissão de documentos de viagem e na saída “ordenada e segura” do território ucraniano.
Um dos postos fica na cidade de Lviv, perto da fronteira com a Polônia, país para onde os brasileiros, em grande parte, estão se dirigindo. O outro fica em Chisinau, capital da Moldávia. A base vai facilitar a assistência a brasileiros que buscam sair da Ucrânia pela Romênia.
Com Portal Correio