Algumas pessoas têm a capacidade de experimentar na prática essa mistura de sensações. É o caso da Ana Eulália, de 19 anos, que nasceu em São Gabriel da Palha/ES e hoje mora em Vitória/ES. Há cerca de seis anos ela descobriu que, diferente de grande parte das pessoas, tinha uma condição que permitia com que ela visse cores e formas e sentisse sabores, texturas e temperaturas a partir dos sons.
“Meu choque mesmo foi descobrir que não era todo mundo que tinha isso. Mas a sinestesia, para mim, é tão antiga quanto respirar. Eu só fui descobrir que não era uma coisa comum com 13 ou 14 anos. Imagina que você sentiu cheiro de pão a sua vida toda e descobre que quase mais ninguém sente cheiro de pão”, explicou Ana Eulália.
A partir da descoberta, a jovem passou a fazer desenhos de como percebia os sons, para mostrar às outras pessoas o que seria a experiência de alguém com sinestesia.
“Eu quis desenhar, primeiramente, porque sempre via coisas muito bonitas nas músicas. Quando eu fecho os olhos eu vejo aquela obra de arte se formando e acho fantástico. Também para divulgar um pouco para as pessoas como a sinestesia funciona”, falou Eulália.
Ana Eulália contou que essas sensações diferenciadas influenciam no gosto musical dela e que a fazem preferir músicas com arranjos mais complexos, com mais instrumentos.
Entre as canções preferidas, a estudante de biologia citou “Bohemian Rhapsody”, da banda Queen, que ela definiu como “uma aventura”, tamanha riqueza melódica. Ana Eulália disse que músicas “mais simples”, com menos instrumentos, não são tão prazerosas para ela.
“Acho auditivamente agradável, só que visualmente não muito. Por isso também que eu acabo não gostando muito do gênero funk, não sou muito fã”, explicou a jovem.
“Agora que eu gravei o vídeo, acho que as pessoas começaram a se identificar. Então muita gente veio me falar ‘nossa, quer dizer que isso que eu tenho a vida toda tem um nome, chama sinestesia?’. Agora conheço muitas pessoas próximas a mim que vieram relatar os acontecimentos sinestésicos delas”, contou.
No vídeo em que ela explica a condição, que soma mais de 18 milhões de visualizações, a jovem disse que, para ela, vozes femininas costumam ter gosto doce, enquanto as masculinas tem gosto salgado ou amargo.
Segundo a estudante, o tom de voz não interfere nessa percepção do gosto, que é sempre a mesma, mas influencia as texturas e desenhos que se formam.
“Uma colega de classe, quando eu tinha uns 14 anos, falava com uma voz muito manhosa. Para mim essa voz sempre teve gosto de leite puro. Um dia eu estava mais estressada, ela não parava de falar, e aquele gosto de leite… eu detesto gosto de leite. Fui ficando enjoada, enjoada, tive que ir no banheiro jogar uma água no rosto, estava tendo até uma ânsia de vômito”, relatou.