O atacante paraibano Hulk revelou que perdeu 6 kg durante a derrota do Atlético-MG para o Flamengo por 2 a 0 nesta quarta-feira (13), quando o Galo foi eliminado da Copa do Brasil. Mas como uma perda de peso tão grande é possível numa atividade física de menos de duas horas? É normal? E quais podem ser as consequências? De acordo com o fisiologista do exercício Turibio Barros, perder 6 kg em suor num jogo profissional não é anormal, mas chegar ao fim da partida sem haver reposição de parte dessa perda não é o ideal.
“Há indivíduos que têm uma sudorese elevada, deve ser o caso dele. E essa sudorese elevada é o que justifica essa magnitude de perda de peso, pois o que se perde é líquido através do suor – comenta Turibio, explicando que uma partida de futebol na verdade promove a sudorese por cerca de três horas: – Quando você pensa na rotina de um jogo de futebol, tem primeiro o aquecimento. Ali, o jogador já perde líquido. Depois, são quase duas horas de atividade. No meio tem o intervalo de 15 minutos, no qual ele continua suando. E ao fim do jogo também demora para a sudorese reduzir, porque o corpo continua aquecido por um bom tempo. São quase 3 horas de sudorese. E perder cerca de dois litros de suor por hora está dentro na normalidade para um atleta de alto rendimento, mas ao menos parte desse líquido precisa ser reposta já durante a atividade”.
O fisiologista esclarece que há motivos para se chegar a perder tanto peso num jogo como o de ontem. Afinal, o suor é o mecanismo pelo qual o corpo se resfria e mantém uma temperatura ideal, e a perda de peso vem da perda de líquidos através da sudorese. Os motivos são:
- O esforço físico em um jogo tão competitivo;
- Ao fato de o Rio de Janeiro ser uma cidade quente;
- A umidade relativa do ar alta, que estimula a produção do suor;
- A enorme massa muscular do Hulk, pois o calor é produzido pelo músculo. Assim, quanto maior a massa muscular, mais calor um indivíduo produz.
“É o calor produzido pelo músculo que gera a necessidade de suar para resfriar o corpo e manter a temperatura corporal. O suor acontece para modular essa temperatura do corpo – ensina: – Mas o atleta deve repor essa perda, ingerir pequenas quantidades de líquido ao longo das horas de partida, de forma facionada, para não encher muito o estômago.”
O nutricionista Thiago Monteiro, que já trabalhou no Flamengo, explica que um jogador com muita massa muscular, como Hulk, tem muito glicogênio armazenado justamente no músculo, e esse glicogênio é queimado durante a partida, intensificando a perda de peso.
“Qual é a recomendação? Se pesar três dias seguidos, antes dos treinos, anotar quantos ml ele tomou de água durante o treino e voltar a se pesar após o treino, pra ver a diferença na balança, descontando o que a pessoa consumir de água. Por exemplo: deu 1 kg a menos, mas ela tomou 700 ml de água = a perda é de 1,7 kg. Já a reposição deve ser feita com 150% do peso perdido. Logo se a pessoa perde 2kg por treino, deve repor 3 litros de água = 100% do que ela perdeu + 50% E depois, sem fazer nada, o peso volta ao normal. Daqui a dois dias o Hulk estará com o peso normal pq ele voltará a estocar glicogênio nos músculos”.
Turibio comenta que a cultura do futebol gera situações de desidratação como a de Hulk, que após a partida relatou ter tido dificuldade de urinar.
“Já vi situações de o atleta chegar num calor absurdo. Mas bebe não mais que 200 ml durante o jogo. Não bebe por receio, é cultural. Vivenciei uma época em que treinadores da antiga restringiam a reposição de líquidos a chupar uma laranja no intervalo. Acreditava-se que a água ia pesar no estômago e reduzir o desempenho, o que é explicado porque o tempo de esvaziamento do estômago é lento. Hoje, isso já avançou, mas os receios permanecem. Muitos jogadores não reidratam nem perto do que perdem, terminam desidratados. Em alguns jogos, o ritmo também é tão intenso que não há tempo para hidratação nos 90 minutos, só no intervalo”.
Os mitos sobre a ingestão de água vêm da associação de estômago cheio e dor lateral no abdômen, a famosa “dor do lado”. Isso acontece porque, com o estômago cheio, durante a respiração mais forte do exercício, o movimento do diafragma faz com que ele seja comprimido contra o órgão, gerando uma dor aguda, algo que era comum também em esportes como corrida e ciclismo. Para evitar a desidratação por um lado e a dor na lateral do estômago por outro, é necessário fazer um cálculo sobre velocidade de esvaziamento do estômago – lembrando que, durante a atividade física, esse esvaziamento é mais lento. Afinal, se o atleta bebe líquido demais, pode gerar essa dor que impede o exercício, é prejudicial para o desempenho. Se bebe de menos, paga o preço da desidratação, que tem uma serie de consequências.
“O que a gente recomenda, institucionalmente, é que todo mundo que faz uma atividade física precisa saber a sua quantidade de esforço. O atleta, profissional ou amador, precisa ter uma ideia de sua taxa de sudorese. O que varia de um indivíduo para outro, pela quantidade de glândulas sudoríparas e pela massa, pela superfície corporal. É importante que ele conheça minimamente sua taxa de sudorese de acordo com a temperatura, e isso é medido a partir da diferença de peso da pessoa antes da atividade e pós-exercício. O máximo admissível de desidratação sem prejuízo é 2% do peso corporal. Vamos pensar no Hulk, ele deve ter aproximadamente 90 kg: 2% de 90 é 1,8 litro. Perdeu 6 litros, o que dá 7%. Isso tem que ser avaliado para que, num próximo jogo, ele seja estimulado a ingerir mais líquido durante o jogo, para essa perda final não ultrapassar 2 litros”.
É normal que se perca líquido, portanto, mas ele precisa ser resposto. Assim como o sódio e o potássio que também são eliminados pelo suor, exigindo uma inclusão de bebidas esportivas para restabelecer as quantidades de sais minerais no corpo.
“Vou dar um exemplo: em uma hora correndo, eu perco 1,5 L de suor. A sugestão é que eu reponha perto disso, pelo menos. Você calcula pelo peso, para uma estratégia individualizada de hidratação.”
A desidratação prejudica tanto a saúde quanto o desempenho, com sintomas como:
- Sede;
- Fadiga precoce;
- Aceleração do ritmo cardíaco;
- Aumento do ritmo respiratório;
- Diminuição da capacidade de exercício;
- Queda de pressão e mal-estar.
– O que vale para o Hulk vale para todo mundo – ressalta o fisiologista, lembrando que em jogos de futebol em dias quentes, uma pausa para hidratação é obrigatória.