Diretor do Instituto de Tecnologia ITuring e membro titular da Academia Brasileira de Educação, Ronaldo Mota/Foto: Divulgação/Fiep

Na última semana, o Serviço Social da Indústria (SESI) certificou 230 profissionais, incluindo coordenadores e diretores, de 27 escolas espalhadas por quase todo o Brasil. O objetivo é que a rede tenha um modelo baseado no “Ciclo de melhoramento contínuo da gestão escolar”. Na prática, é a análise permanente do que acontece na escola. 

Em média, 10 mil estudantes vão ter o seu ensino impactado pelo Programa SESI de Gestão Escolar (PSGE). A cerimônia de entrega dos certificados contou com a participação do diretor do Instituto de Tecnologia ITuring e membro titular da Academia Brasileira de Educação, Ronaldo Mota. 

A Agência de Notícias da Indústria entrevistou o professor, que destacou os principais desafios para os gestores atualmente e afirmou que o futuro da educação requer uma aprendizagem contínua e um modelo de ensino híbrido.

Ao ser perguntado sobre como a gestão da escola está relacionada com a aprendizagem dos estudantes, Ronaldo Mota diz que ”a gestão da escola impacta na aprendizagem, que é o mais fundamental. Nós temos um problema dividido em camadas. A primeira camada é a percepção de que não há no mundo contemporâneo nem um exemplo de país ou região que tenha tido o desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável que não fosse ancorado numa educação de qualidade”.

Ele também enfatizou que a segunda camada, que torna o problema mais complexo, é que não basta qualquer educação. ”Como dito, anteriormente, há que se ter uma educação de qualidade, ou seja, não podemos simplesmente repetir aquilo que nós fazíamos, e fizemos com sucesso, no século 20. Os desafios são diferentes, os pressupostos são diferentes e, portanto, demandam uma abordagem educacional diferenciada daquilo que teve sucesso no século passado. Só que seguir os mesmos caminhos de antes não resolve os problemas de agora. A terceira camada envolve, agora, a percepção do educando, de que mais importante do que o quêe ele aprendeu, é ele ter aprendido a desenvolver sua capacidade de aprender continuamente ao longo de toda a vida. O mundo do futuro educacional é o mundo da educação permanente ao longo da vida.Sem educação não há emprego, não há felicidade e há o risco de você dar uma educação de má qualidade, onde você pode ter escolaridade junto com desemprego e infelicidade”, disse.

Após ser questionado sobre qual seria o caminho para atingir uma boa gestão escolar, Ronaldo disse que ”

O gestor, em conjunto com os educadores e os educandos – na verdade, o gestor é um educador -, eles são peças-chave desse processo. Portanto, têm que ter uma participação ativa, no sentido de que não há receitas prontas e acabadas, infelizmente. Temos, neste momento, enormes desafios, dadas as transformações radicais que a sociedade vem passando, especialmente quanto ao conhecimento. Ou seja, as tecnologias digitais representam uma variável que trouxe mudanças muito drásticas em vários aspectos e eu diria pelo menos três.  

Primeiro, as tecnologias alteram a forma como se produz conhecimento. Segundo, as tecnologias digitais afetam a forma como se transmite conhecimento; e, por fim, ela altera a forma como aplicamos o conhecimento, ou seja, como nós gerimos o conhecimento. Então, nessas três áreas,: produção, transmissão e gestão, os impactos são muito grandes e são novos. Se nós não criarmos uma cultura na qual o gestor educacional se habitua a esses desafios e está preparado para eles da melhor forma possível, nós não temos como enfrentar esse problema. E, mesmo que esteja preparado, os desafios vão ser gigantescos. Agora, se ele não estiver preparado, se não estiver consciente do momento que está vivendo, eu diria que o desafio é insuperável”.

Em resposta ao questionamento sobre como as tecnologias educacionais podem ser aliadas no processo de melhoria da aprendizagem, o membro titular da Academia Brasileira de Educação respondeu que ”

Do ponto de vista da educação tradicional – chamamos assim aquela educação que nos habituamos, de forma presencial, do século 20 -, ela criou um paradigma e esse paradigma se mostrou insolúvel. Porque o paradigma dizia o seguinte: “somos capazes, enquanto país, enquanto organização, de fazer coisas boas e para muitos, mas não sabemos fazer essas duas coisas ao mesmo tempo. Quando fazemos coisas boas, em geral, é para poucos e, quando fazemos coisas para muitos, em geral, é de má qualidade”. Eu diria que, junto com essas dificuldades que as tecnologias nos trazem, tem um alento, porque, pela primeira vez, em tese, é possível conjugar a qualidade com quantidade. Mais do que isso, dada a maneira como nós operamos as tecnologias digitais, só haverá qualidade se houver quantidade. 

Essa história de educação presencial ou a distância vai ficar no passado. Nós caminhamos em direção a uma educação flexível, que se adapta a qualquer contexto, a qualquer propósito, uma educação híbrida, que vai conjugar as coisas boas da educação presencial com os bons predicados da educação a distância, gerando uma outra educação, chamada híbrida. Essa educação vai ter ambas as características da presencial e a distância e, por fim, e mais importante, a característica de que será uma educação personalizada. Para ser personalizada é preciso que o educador, o gestor educacional conheça ao máximo quem é ou quem são seus educandos.  

A vantagem das tecnologias digitais é que, quando você está trabalhando em grande escala, utilizando plataformas educacionais, ambientes virtuais de aprendizagem, é plenamente possível acompanhar a evolução e o comportamento do educando. Ao fazermos isso, estamos, permanentemente, coletando, sistematizando e analisando dados do educando. Se nós sabemos muito bem quem é o aluno, quais são suas características, quais são as mídias que ele mais e melhor aprende, quais são os momentos do dia em que aprendizagem é maximizada, quais são as abordagens que ele se sente mais contemplado, quando conseguimos traçar esses elementos, nós começamos a construir o que é a palavra-chave da educação contemporânea: trilhas educacionais personalizadas. Ao trabalhar essas trilhas, geramos a oportunidade que as pessoas entendam o seu DNA educacional e cada um de nós tem um. 

Esse processo não está na mão só do professor ou de uma classe, está no conjunto do corpo docente. Não está na mão de um único gestor, está em uma estratégia que envolve todos os gestores que fazem parte do processo. Isso não é feito de forma desconectada do aluno, o aluno é o elemento ativo, ele se conhece melhor e, ao se conhecer melhor, ajuda seus educadores a procurar quais são os melhores caminhos para maximizar a sua aprendizagem”.

Ronaldo Motta também falou sobre os métodos que não funcionam mais para a educação de hoje. ”

O que não funciona é você ficar em uma posição intolerante, dizendo que não aceita novidades. O que não resolve, hoje em dia, é você menosprezar aspectos que, claramente, se mostram muito mais relevantes do que eram no passado. Como, por exemplo, o desenvolvimento das características socioemocionais. No universo do século 21 tem que saber trabalhar em equipe, entender e se colocar na posição do outro, ou seja, desenvolver empatia, criar a capacidade de ter uma visão multidisciplinar, transdisciplinar. Se abdicarmos de informar aos nossos educandos, gestores e educadores de que esses elementos são imprescindíveis, nós vamos trabalhar uma educação do século passado, que pode até ter sido boa para atender as demandas daquela época, mas não são mais.  

Essa migração entre o que foi o século passado e o século atual eu costumo chamar de uma migração entre o cognitivo analógico, que nega a utilização de qualquer tecnologia e se prende ao aprender algo memorizando, em direção ao metacognitivo digital, o qual adota com inteligência as novas tecnologias e tem como ideia central o aprender a aprender. Ou seja, tão ou mais relevante do que o conteúdo que é aprendido é, durante a aprendizagem, ser despertada a sua capacidade de aprender, porque o conhecimento, mais do que nunca, tem uma dinâmica que não permite imaginar que você vai ser um bom profissional só porque domina um determinado conteúdo. O bom profissional é aquele que domina o conteúdo que já existe, mas que está absolutamente preparado para dominar qualquer futuro conteúdo que ainda se quer tenha sido desenvolvido”.

Fonte: Fiep

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