
Por Márcio Rangel
Nesta segunda-feira, 7 de julho, completa-se um ano da morte de Biliu de Campina, um dos maiores símbolos da cultura nordestina, um patrimônio vivo que embalou gerações ao som do forró pé de serra — com irreverência, autenticidade e, acima de tudo, fidelidade às raízes.
Morreu o homem, ficou a obra. Mas nem isso parece ter sensibilizado, de fato, quem faz e movimenta a maior festa popular do Nordeste. O São João de Campina Grande de 2025 passou praticamente alheio à memória de Biliu. Uma “ilha do forró” tímida no Parque Evaldo Cruz e raras menções nos palcos principais do evento não são suficientes para honrar o legado de quem dedicou a vida a essa festa — antes mesmo dela ser o “Maior São João do Mundo”.
É inaceitável que a cidade que o homenageou em vida com um busto no Sítio São João e palcos que ecoaram sua voz por décadas, tenha agora silenciado sua memória, exatamente no primeiro São João após sua morte. Nem mesmo muitos dos artistas locais, que se dizem herdeiros de sua escola musical, se deram ao trabalho de prestar tributo público ao mestre. Nem um “viva”, um xote, uma referência.

Estamos falando de um artista que não apenas cantava forró — ele defendia a cultura nordestina com unhas e dentes. Enfrentava modismos, questionava a pasteurização da música, brigava com os “moderninhos” e mantinha viva a centelha do forró de raiz, o mesmo que tantos hoje exploram em discursos, mas esquecem na prática.
Se Campina Grande é, de fato, a capital do forró, precisa aprender a honrar seus mestres — não só em monumentos, mas no palco, no repertório, na curadoria e na atitude. Não dá pra tratar Biliu como figurante em uma festa da qual ele foi protagonista durante décadas. O que vimos em 2025 foi, no máximo, uma citação protocolar. E isso não basta.
A morte de Biliu de Campina é recente. A saudade é imensa. A dívida com ele, ainda maior. E que essa data sirva, pelo menos, para uma reflexão honesta e urgente: como estamos tratando quem construiu a identidade dessa festa? Porque homenagear Gonzagão é fácil — ele está no panteão. Difícil é reconhecer, em vida ou após a morte, os nossos “Gonzagas” locais.
Biliu merecia mais. Campina devia mais.
