Nesta quarta-feira, 9 de julho, Campina Grande relembra um dos crimes mais covardes já registrados na cidade. Há exatos 14 anos, o professor de Língua Portuguesa Valderi Carneiro Santos, de 44 anos, foi encontrado morto em uma pousada no Centro da cidade. O caso, até hoje, é lembrado não apenas pela crueldade do crime, mas pela discussão que levantou sobre intolerância, violência contra professores e homofobia.
Valderi era um educador respeitado, conhecido por lecionar em colégios particulares como o Alfredo Dantas e escolas públicas como a Escola Estadual Francisca Martiniano da Rocha em Lagoa Seca. No dia 9 de julho de 2011, seu corpo foi encontrado na Pousada Estrela, com sinais de estrangulamento e cortes profundos, horas depois de ter sido visto com dois jovens em um bar no centro da cidade. O registro do crime chocou não só o setor educacional, mas toda a sociedade paraibana.
Imagens do circuito de monitoramento da STTP mostraram Valderi entrando em um táxi com dois rapazes por volta das 5h24 da manhã, pouco antes de ser assassinado. O corpo foi descoberto mais tarde, após funcionários estranharem a ausência de movimentação no quarto.
Na época, as investigações da Polícia Civil apontaram que dois adolescentes, irmãos de 15 e 16 anos, estavam diretamente envolvidos no homicídio. Eles foram responsabilizados e cumpriram medidas socioeducativas após se entregarem à Justiça. Segundo a polícia, a motivação teria sido um suposto desacordo após um programa sexual, com sinais claros de latrocínio, mas também indícios de motivação homofóbica.

Um crime com traços de homofobia
O assassinato de Valderi ocorreu em um ano de alto índice de crimes motivados por homofobia na Paraíba. Até agosto de 2011, o estado já contabilizava 12 mortes com indícios homofóbicos, ocupando a segunda posição no ranking do Nordeste, atrás apenas de Pernambuco. O caso do professor contribuiu para ampliar o debate sobre a violência sofrida por pessoas LGBTQIA+ em ambientes públicos e privados.
O paradoxo do respeito
Pesquisas nacionais apontam que o professor está entre as profissões mais admiradas e respeitadas pelos brasileiros. Ainda assim, a tragédia envolvendo Valderi revela uma contradição: nem o prestígio social da profissão, nem sua importância para a formação cidadã, impediram que ele se tornasse vítima de um crime brutal, possivelmente motivado por preconceito.
Quatorze anos depois, o caso de Valderi ainda causa comoção entre amigos, colegas e ex-alunos. Sua história nos lembra que a luta contra a intolerância, o preconceito e a violência ainda está longe do fim — e que proteger quem ensina também é uma forma de proteger o futuro.