MATEUS VARGAS E MARCELO ROCHA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A CPI da Covid ouve nesta semana a advogada Bruna Morato, representante dos médicos da Prevent Senior que realizaram denúncias contra a empresa, além do empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan e apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
As falas devem servir para aprofundar apurações sobre supostas irregularidades em unidades da operadora e possível elo entre o governo federal e entes privados para promover tratamento sem eficácia para Covid-19.
O primeiro depoimento será o da advogada, nesta terça-feira (28). Um dossiê entregue à CPI por 15 médicos que trabalharam na Prevent, representados pela advogada, aponta que pacientes e parentes não eram consultados sobre a administração de medicamentos do chamado “kit Covid”.
Em particular, o documento menciona suposta mudança nos prontuários do médico Anthony Wong e Regina Hang, mãe de Luciano Hang.
Os senadores do grupo majoritário da CPI já trabalham internamente com a possibilidade de adiar por mais tempo a conclusão das atividades da comissão, em previsões que variam do meio ao fim de outubro. O principal motivo é a evolução da apuração envolvendo a operadora Prevent Senior.
À Folha de S.Paulo, o relator Renan Calheiros (MDB-AL) fez uma avaliação neste domingo (26) de que a CPI terá, no máximo, mais duas semanas de depoimentos. “Da minha parte, tão logo tenhamos o último depoimento, apresentarei o relatório”, afirmou.
Outro integrante da comissão, Otto Alencar (PSD-BA) afirmou que a investigação parlamentar se dedicará a fechar “a ponta da Prevent Senior” no tempo que lhe resta.
“Acho que podemos concluir na primeira semana de outubro. Renan tem trabalhado nos fins de semana e já tem o relatório praticamente pronto”, disse Alencar.
Integrantes da CPI dizem acreditar que merece atenção a possível relação da Prevent com o governo Bolsonaro, principalmente pela suspeita de o Ministério da Saúde ter usado um protocolo da operadora para incentivar a utilização do chamado “kit Covid”, com remédios ineficazes contra a doença.
Já Hang deve ser ouvido na quarta-feira (29). A convocação do empresário não foi consenso nos bastidores do grupo majoritário da CPI.
Alguns senadores avaliam que o empresário tem pouco a acrescentar na apuração e que a sessão pode virar só um palco para que ele defenda o que chama de tratamento precoce.
Há a percepção, porém, de que os depoimentos voltarão a colocar em evidência o gabinete paralelo, suposta estrutura de aconselhamento para temas da pandemia de Bolsonaro, fora da estrutura do Ministério da Saúde.
O depoimento do empresário das lojas Havan ganhou força, após a convocação, por documentos divulgados pela TV Globo que indicam que Hang financiou o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos graças à ajuda do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Hang, Eduardo e o blogueiro negaram este financiamento. O canal Terça Livre, de Allan dos Santos, é investigado em dois inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal) por disseminar fake news e incitação ao crime contra autoridades.
Hang também teve reuniões durante a pandemia com integrantes do governo para pressionar pela flexibilização da venda de vacinas para Covid-19 ao setor privado, no momento de escassez de doses ao SUS.
A proposta encabeçada por ele e pelo empresário Carlos Wizard era de doar parte das vacinas à rede pública.
O dossiê entregue à CPI indica que o prontuário médico da mãe de Hang cita a consequência de uma pneumonia bacteriana, não cita a Covid-19, motivo pelo qual foi internada, como causa da sua morte.
O documento, que tem cerca de 2.000 páginas, foi elaborado pela Prevent Senior, operadora que controla o hospital em que Regina Hang morreu.
Além disso, o prontuário, obtido pela Folha, também relata que a paciente recebeu tratamento precoce com medicamentos ineficazes contra a doença, como azitromicina, hidroxicloroquina, prednisona e colchicina, antes de morrer.
Em nota divulgada à imprensa, Hang disse que fez “tudo o que podia” e que, “como qualquer filho”, quando sua mãe ficou doente, “foi para a guerra com todas as armas que tinha”. O empresário disse também ter “total confiança nos procedimentos adotados pelo Prevent Senior e que tudo que era possível foi feito”.
Renan Calheiros afirmou na quarta que a comissão tem provas de que o empresário Luciano Hang pediu para que os médicos que trataram sua mãe não divulgassem que ela teria sido medicada com o chamado “kit Covid”.
Hang é um dos defensores do chamado tratamento precoce, com medicamentos sem eficácia comprovada para tratar a Covid-19. Em depoimento à CPI da Covid, o diretor-executivo da Prevent, Pedro Batista Júnior, negou as acusações do dossiê.
Afirmou que não se tratava de estudos e sim de uma simples observação com o uso dos medicamentos do chamado kit covid. Ele acusou ainda dois ex-médicos de acessarem e alterarem as planilhas para prejudicarem a empresa.
Por outro lado, na denúncia mais grave na percepção dos senadores, Batista Júnior reconheceu que um protocolo da Prevent orientava a reclassificação do chamado CID, o código de diagnóstico da doença, para excluir dos prontuários a Covid-19, passando a considerar que os pacientes, depois de determinado tempo de internação, estavam com outros problemas de saúde.
Batista Júnior disse, porém, que atestados de óbito não foram alterados.
O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse à Folha de S.Paulo acreditar que o relatório final da comissão será robusto o suficiente para não ser engavetado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, próximo ao presidente Jair Bolsonaro.
“Está achando que o cara [Aras] vai matar isso no peito [engavetar] e vai dizer: ‘Não, espera aí, eu mato isso no peito e vou resolver’? Não é assim, não”, afirmou.
Os senadores do grupo majoritário da CPI da Covid já trabalham internamente com a possibilidade de adiar por mais tempo a conclusão das atividades da comissão, em previsões que variam do meio ao fim de outubro. O principal motivo é a evolução da apuração envolvendo a operadora Prevent Senior.
Com Folhapress