“Andei por aí / Mas voltei pro meu lugar”, delimita Renata Arruda através de versos da Toada do Giramundo, uma das 12 músicas compostas pela artista em parceria com Paola Tôrres e gravadas no álbum Nordeste in natura.
Os dois versos da Toada do Giramundo sintetizam a rota geográfica desta artista paraibana radicada na cidade do Rio de Janeiro (RJ) na década de 1990 e apresentada à mídia como cantora em 1993 com pompa e a grife do produtor musical Marco Mazzola.
Andanças, discos e anos depois, Renata Arruda voltou para o lugar de origem, a cidade natal de João Pessoa (PB), onde gravou Nordeste in natura, disco feito sob direção musical da própria artista.
Com letras escritas com imagens, símbolos e signos alusivos ao Nordeste com certa dose de clichês, o cancioneiro autoral do álbum Nordeste in natura explicita a viagem rítmica já nos títulos de músicas como Ciranda encantada, Maracatu cambindeiro, Embolada do mar, Ciranda da ponta do céu, Coco rimado – gravado com a adesão vocal de Vó Mera, bamba do gênero – e Maracatu beira-mar.
O time de convidados inclui duas estrelas do Nordeste nascidas na mesma Paraíba que gestou Renata Arruda. Chico César ajuda a espalhar Vento da serra. Já Elba Ramalho – primeira dama da nação musical nordestina desde os anos 1980 – aviva a forrozeira Xamego do pavio no arremate do disco.
Mesmo estranho no ninho nordestino, Ney Matogrosso xaxa à vontade com a anfitriã no Repente da cana caiana. A parceira Paola Tôrres se junta com Renata na gravação do coco-de-embolada Bora lá dançar.
Nono álbum de Renata Arruda em 26 anos de carreira fonográfica, Nordeste in natura flagra a boa cantora mais perto do mar do que do sertão nordestino – ao contrário do que faz supor a xilogravura criada por J. Borges para a capa do disco – ao dar voz a repertório arranjado pela artista com os músicos Marcelo Macedo (guitarra e violão) e Chico Correa (programações e guitarra).
Ambos assinam a produção musical do álbum mais nordestino dessa valente cantora paraibana.
G1