A chapa de oposição liderada por Alberto Fernández, que tem a ex-mandatária Cristina Kirchner como vice, venceu com larga vantagem as primárias presidenciais argentinas realizadas neste domingo (11), apontam os resultados preliminares.
Com 58% das urnas apuradas, a dupla tinha 47% dos votos contra 32,6% da chapa do atual presidente, Mauricio Macri. A tendência, segundo o órgão eleitoral, é que a diferença continue assim até o final da apuração.
Caso os números se repitam na eleição de fato, no fim de outubro, Fernández seria eleito em primeiro turno —para isso, ele precisa ter mais de 45% dos votos ou mais de 40% e no mínimo 10 pontos percentuais de vantagem para o segundo colocado.
De acordo com os dados oficiais, o comparecimento foi alto, com a participação de 75% dos eleitores —o voto é obrigatório no país.
As chamadas “paso” (primárias abertas, simultâneas e obrigatórias) foram criadas em 2009, com a intenção de diminuir o número de candidaturas que concorriam na eleição.
As chapas que obtêm menos de 1,5% dos votos nessa etapa não podem concorrer no primeiro turno, marcado para 27 de outubro. Já o segundo turno, se necessário, será em 24 de novembro.
As primárias funcionam, assim, como uma prévia, mostrando quanto de apoio cada candidato tem. Além da disputa presidencial, as primárias incluem ainda votos para o Legislativo e para os governos locais.
O resultado oficial, que saiu com mais de uma hora de atraso, surpreendeu porque as pesquisas internas, divulgadas neste sábado (10), mostravam uma disputa mais apertada, com Fernández liderando com uma vantagem de 2 a 4 pontos percentuais sobre Macri, uma diferença dentro da margem de erro.
O resultado também é, de maneira indireta, uma derrota para o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que declarou apoio a Macri e fez críticas a Cristina Kirchner
Com a vitória, os oposicionistas foram até o comitê kirchnerista em Buenos Aires comemorar o resultado. O grupo entoou a marcha peronista e dançou cúmbia, apesar do frio de 10 ºC.
Já do lado governista, um otimismo contido do início da noite foi aos poucos dando espaço para a tristeza conforme foi ficando claro que a derrota seria maior do que o esperado.
Às 22h15 (mesmo horário de Brasília), o próprio Macri subiu ao palco de seu comitê, também na capital, para reconhecer a derrota. “Fizemos uma má eleição”, disse ele abraçando seus correligionários. “Ainda há tempo para trabalhar até o primeiro turno”, completou.
A declaração de Macri pôs fim a apreensão dos dois lados gerada pela demora na divulgação dos resultados.
Primeiro, a juíza federal Maria Servini de Cúbria, em uma tentativa de impedir as confusões registradas em anos anteriores durante a contagem nos votos, proibiu a divulgação da boca de urna e estabeleceu que os resultados oficiais só poderiam ser divulgados depois que 10% já tivesse sido apurado, o que estava previsto para as 21h.
Dado o horário, porém, nada de números. O governo disse que um problema no sistema de contagem atrasou a apuração, enquanto os kirchneristas acusavam a gestão Macri de esconder o resultado para ocultar a derrota.
Só por volta das 22h30 os números enfim começaram a sair, já mostrando a larga vantagem opositora —que também ficou na liderança na primária para o governo da província de Buenos Aires (que não inclui a capital, mas onde mora 38% da população).
Maior vencedor do dia, Fernández começou o domingo saindo para passear com seu cachorro Dylan antes de seguir para votar na capital.
Já Macri, como sempre, foi votar um pouco mais tarde, por volta do meio-dia e foi recebido por um pequeno grupo de opositores, que gritava: “Pode recolher suas coisas que você já vai embora”. O mandatário só sorriu e não respondeu à provocação.
Folha de S. Paulo